Em 2019 produzi o Elas Pelas Janelas para contar histórias de pessoas em sua jornada para casa, pessoas que passam como um filme em movimento em nossa frente, mas quase que despercebidas. Se a janela é o fotograma, o ônibus a moviola. O ensaio mostra nosso estado de anestesia, acostumados e acostumadas a passar horas no transporte, esperando, depois horas em trânsito, em condições nada agradáveis, em um dia de jornada tripla para as mulheres brasileiras.
Quando a pandemia chegou, inevitavelmente fui induzido a registrar mais uma vez estes tantos absurdos. As políticas públicas passaram longe de garantir a segurança de todas as trabalhadoras e trabalhadores usuários do transporte público.
Nas janelas, vemos faxineiras, farmacêuticas, trabalhadoras do sistema de saúde, empregadas domésticas e seus filhos (sem escola precisam levar para a casa da patroa). Vemos a realidade do que é ser mulher, trabalhadora, mãe e viver no Brasil. Vemos mulheres na faixa de risco, idosas, pedintes, totalmente expostas.
Durante a pandemia, não só Maceió, mas várias cidades, limitaram a lotação dos ônibus, proibindo passageiros em pé e evitar uma proliferação em massa. Porém, as prefeituras também atenderam às empresas de transporte público e reduziram a frota em circulação. Isso causou inúmeros problemas às pessoas, fazendo com que o tempo de espera fosse mais que duplicado. Testemunhei mulheres chegando às 17h e só embarcando às 21h da noite.
Nos pontos de ônibus, esperando entre 3 e 4 horas, em pé, sem prioridade de embarque, não importa a idade. Nas janelas, a imagem do cansaço e do descaso.

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